terça-feira, 30 de março de 2010

XXXI



Hoje eu descobri a sorte
Empenhei-me em você minha própria morte
Vi que eu podia ganhar meu santo forte
Fui meu destino e meu próprio norte
Era dia, era noite, era todo o mesmo amanhã...

Nem era brincadeira, nem tinha cheiro de hortelã
Fazia frio, pois já nem aquecia o sol forte da manhã
Fiz-me forte, sem norte
Empenhei-me em você minha própria morte.

segunda-feira, 29 de março de 2010

XXX











Esses dias tão diferentes
Consomem-me
matam-me lentamente
são-me indiferentes...

tardes extensas,
noites sem fim,
dias assim
longe do seu lado,

no silêncio e na tua ausência
são eles, meus dias, assim
sem sabor, como essas tortas linhas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O poeta é a semente



*obs: poema, de 23 de março, em homenagem ao aniversário de Zé Vicente

Meu amigo, poeta Zé Vicente
És fonte e luz que irradia
e ilumina a vida de tanta gente

Foste plantado em terra boa,
cultivada... germinou semente
de alegria e esperança
para tanta gente

Quando nasceste,
O céu sorriu-se de contente
Fez-se o dia mais preciso
e alegre, fez-te presente

Pois trouxeste
mais vida e poesia
no teu canto que alegra
e encanta tanta gente

Quando nasceste,
Deus pôs no coração da gente
Uma semente, florescente
De enCanto...
a semente Zé Vicente!

quarta-feira, 24 de março de 2010

XXIX



Pudera eu
trocar tudo...

o mundo, o silêncio, o incerto
o passado, o futuro, o presente
o meu nome, o sonho, a semente
a insônia, a poesia crua e fria

Pudera eu...
trocar tudo

o vazio, a esperança, o passado
meu jeito, meu verso trocado
o medo, o ontem, meu peito
a vida futura, meu sorriso estreito

pudera tão quanto quisera eu
trocar tudo,

para poder ter novamente teu sorriso
e poder ainda a vida
fazer algum sentido.

terça-feira, 23 de março de 2010

Amor bastante



quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.

(Paulo Leminski)

segunda-feira, 22 de março de 2010

XXVIII



Sinto, penso...

tudo apascenta solidão

Angústia...
vento sopra
sem direção

É noite que chega
É dia que vem
Solidão se vai bem

Sem bem, sem você
sou ninguém.

domingo, 21 de março de 2010

Meu peito chora triste



E hoje meu peito

chora triste
A distância que existe
entre eu e você

distância....

que persiste em nos fazer sofrer
em nos manter distantes
a cada instante

mas,
de ti empre lembrarei
de você e com você
sempre estarei

minha vida, meu futuro incerto
só terá sentido um dia
se ter você por perto.

sábado, 20 de março de 2010

XXVII



Sou então insonso e triste
porque o destino ainda insiste
em deixar-nos longe um do outro
sou então insosso e triste
por tudo como acontece
vivendo longe do seu lado

sou agora inconsequente, torturado
vou vivendo...
de uma forma triste
a esperar...
meu feliz e curto passado.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Imagine, que em pasto seco, com qualquer faísca o fogo se alastra".

quinta-feira, 18 de março de 2010

Os três mal amados


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


(João Cabral de Melo Neto)

"Obras Completas", Editora Nova Aguilar. - Rio de Janeiro, 1994, pg.59.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Em meio a tantos escândalos, quando um político é "apenas" incompetente e desinteressado, ele passa a ser exemplar".

terça-feira, 16 de março de 2010

XXVI



Anseio pelo reencontro
Pelo sonhado reencontro
em que voltaremos a
reencontrarmo-nos...

e tudo poderá
novamente
fazer algum sentido...

e a vida poderá novamente
sorrir para mim
com seu sopro verdadeiro de vida!

segunda-feira, 15 de março de 2010

XXV



O sonho repeliu-se
a vida desfez-se,
Se tudo fosse diferente
E, falasse-me realmente,
Nada assim seria
Nem acabaria...
Numa confusa exemplificação
Sem sentido, sem direção...
Não seria o grande mistério
Que creditara-me não ser sério
O mistério, sério, levou sonhos, futuro
Mistério, engoliu tudo...
Meu peito, meu nome, minhas lembranças..
Meu peito, meu jeito nas lembranças
Meu amor indelével, genuíno...
Tudo se esvai, ficando sem destino:
-Acabei!

domingo, 14 de março de 2010

XXIV



Ainda irei buscá-la,
e quando nem notarmos
estaremos de frente com
nossos sonhos...

Você é muito especial
para que pudesse
não estar em mim...

Meu carinho, meu afeto
verdadeiro
será sempre teu!

sábado, 13 de março de 2010

Quero escrever o borrão vermelho de sangue



Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Das ilusões



De vez em quando,
sonho,
E vejo-me feliz novamente
parado... ao seu lado,
A sorrir alegremente...

Tudo transborda, tudo se enche
meu peito cessa, mas a vida
não mente...
Logo desperto, de súbito,
demente...

Abro os olhos,
o despertador continua a tocar...
Mais um dia
? menos um dia?
a morrer lentamentte...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Correspondência interrompida



-alguma poesia, umas palavras,
alguma música...
-uma pequena lembrança,
outras palavras,
um coração e um passo...
-um marca página, um traço
um rascunho
e vários ensaios...
-algum sono perdido, uma vida,
vários sonhos,
e outras tantas lembranças...
-um dia, umas horas,
uma dor inefável,
não mais amanheci:
-mataram-me!

quarta-feira, 10 de março de 2010

XXIII



Linda menina,
tão linda e tão minha...

se foi?

dentro de mim mesmo...
se escondeu? Não?

se foi
!

Saudades tantas...

a todo momento

se foi
,

Por você que vivo,

ou apenas mais existo

se foi
...

Minha menina:

-tão linda, tão minha

se foi.

terça-feira, 9 de março de 2010

Não sei porque



Não sei porque
quando paro, penso, me vejo sempre pensando em você
e tudo o que sinto, tudo o que eu vejo
se direciona sempre a você

Você é parte mim, assim como sempre sonhei
em ter alguém
e estar junto de você

O dia, a noite tudo se passa
Passando por você
em meus pensamentos,
Nem mesmo o tempo tem mais graça
Longe do seu lado.

Assim a vida passa
Vejo-me em encantos teus
Lembro do que é meu
Que um dia sonhei
E toda a lembrança
Aponta sempre um lado
e esse lado, é sempre ao lado teu.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Somos Mulheres, Simplesmente Mulher!


*homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Somos mulheres criadas a imagem e semelhança de Deus; somos negras, brancas, índias; somos de tanta raça e tanta cor. Gostamos de banho perfumado, de receber flores e ouvir palavras de amor e receber carinho; de cantar, dançar e tocar. Deixamos com muita facilidade as lágrimas banhar nossos rostos. Somos geradoras de vidas, amor e esperança; tornamos o ambiente mais alegre e bonito. Somos sempre lindas.

Somos mulheres frágil e forte, uma mistura que dá certo. Somos capazes de superar os preconceitos da sociedade e os preconceitos eclesiais que aos poucos já não encontram mais suporte. Sabemos de nossa missão, que somos enviadas e estamos por todos os lugares semeando fraternidade, justiça, paz e amor. Somos presença amiga de Deus no meio de seu povo.

Somos esposas, mulheres da aliança. Somos mãe, fonte de vida e de amor, revelamos a face materna de Deus, Ele que é fonte de vida e de amor sem limites, tal como as entranhas da mãe. Somos porta voz de Deus, proclamamos sua mensagem de vida e ressurreição. Somos filhas e amigas, presença incansável, cremos na vida, num novo amanhecer; queremos um mundo construindo paz.

Somos profetas e não nos calamos, mesmo quando estamos silenciosas. Somos solidárias com cada irmã e cada irmão que luta. Nesse chão tantas mulheres plantadas pela vida, justiça, amor e paz; sofrem caladas, perdem a vida e enfrentam a dor. Somos a força feminina presente construindo uma nova história. Maldita toda a violência que devora a vida pela exclusão e pela repressão.

Somos dona de casa, estudante, evangelizadora, lavradora, contadora, operária, catadora de reciclável, vendedora, médica; somos de tudo um pouco. Somos lutadoras, fazemos história mesmo quando não reconhecem nosso valor. Somos incansáveis. Temos o dia oito de março como nosso dia, mas com muita ousadia fazemos de cada dia o nosso dia. Somos Mulheres. Simplesmente Mulher.


(Lucimar Moreira)

domingo, 7 de março de 2010

"Metade de mim é sua, sua é também toda a minha outra metade".

sábado, 6 de março de 2010

XXII



A lua vem,
e enche-me de encanto
A noite é bela,
o pranto tanto
Que arrebata-me
a alma
a levar espanto

Mas a alegria e a
beleza do luar,
Traz-me encanto
pois a lembrar de você - tanto
Só consigo querer-te
levar encanto

Encerrar nosso pranto
e desejar
a mais pura e plena harmonia...

A lua se faz tão linda
e com teu olhar
para ela aprendi a olhar
e de ti sempre lembrar

... e em meu coração
pra sempre te levar...

sexta-feira, 5 de março de 2010

XXI



Saudades do teu jeito,
teu sorriso sincero,
teu beijo doce...

Saudade de quando,
morávamos um no outro
a vida fazia algum sentido...

Saudade do mundo perdido
da vida partida
da saudade, esquecida no meu peito.

quinta-feira, 4 de março de 2010

XX



Nada importa
nessa sua distância,
embora,
meu peito desfaça-se
em ânsia

Eu contigo vivo a mais pura
cumplicidade,
no íntimo de meu peito

Lá onde você entrou,
conquistou,
e permanece sempre
em mim...

quarta-feira, 3 de março de 2010

O teu riso



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

(Pablo Neruda)

terça-feira, 2 de março de 2010

De quando é quase noite













A tarde então
fez-se meia
justamente pra indicar

que metade de mim 
sente sua falta

E a outra metade
de ti
não quer se desviar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

XIX









Eu por ti tenho
vários sonhos
sublimes

sonhos radiantes
Que não cessam
em se renovar a todo instante

São sonhos maravilhosos
sonhos que nos levam
além do horizonte

Fazem-nos
relembrar o ontem
viver o hoje
sonhar com o amanhã

Fazem-nos
para sempre
sonhando juntos.