terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Começa Fórum Social Mundial 2009 na Amazônia

Bandeiras de todas as cores, cartazes com os mais diversos dizeres, faixas denunciando a violação de direitos humanos ou protestando contra a construção de hidrelétricas na Amazônia, apitos, carros de som, grupos identificados com camisetas ou bonés, gritos de ordem, batucada, músicas tocando em vários grupos simultaneamente. Este era o cenário na Escadinha do Cais do Porto, ao lado da Estação das Docas, no centro de Belém, de onde partiu a Marcha que abriu o 9º Fórum Social Mundial (FSM), por volta das 15h de terça-feira (27).

Diversidade

Esta é a palavra que melhor define o perfil dos que participaram da Marcha nesta tarde, em Belém, abrindo o FSM. No meio do povo, era fácil de identificar desde grupos que lutam, por exemplo, pela erradicação do trabalho escravo, até ativistas que defendem a legalização do aborto. Os grupos religiosos se misturam aos sindicalistas; os movimentos sociais caminham lado a lado com as ONGs e com os militantes dos partidos políticos. A juventude, maciça, também quer mostrar que sonha com “outro mundo possível” e mostra sua cara na caminhada.

Acompanhe o FSM 2009:
http://www.fsm2009amazonia.org.br/ (site oficial FSM 2009)
www.forumsocialmundial.org.br (site oficial FSM)
http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm?home_id=95&alterarHomeAtual=1 (cobertura especial Carta Maior)



Fonte: http://www.cnbb.org.br/ns/modules/news/article.php?storyid=912

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

FSM 2009

Fórum Social Mundial 2009

por Frei Betto

Adital -
Belém, PA, abrigará, de 27 de janeiro e 1º de fevereiro, a nova edição do Fórum Social Mundial (FSM). São esperados cerca de 120 mil participantes. Três grandes temas deverão dominar os debates: a preservação ambiental, sobretudo por ter como cenário a Amazônia, onde o desmatamento e a emissão de gás carbônico têm crescido; a crise do capitalismo globalizado; a guerra no Oriente Médio.

Entidades participantes convidaram os presidentes do Brasil, da Venezuela, do Equador, da Bolívia e do Paraguai. Se comparecerem, será em caráter pessoal.

Reza a Carta de Princípios do FSM que se trata de um evento destinado aos movimentos da sociedade civil contrários ao neoliberalismo e a qualquer forma de imperialismo, e comprometidos com a construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação de sustentabilidade entre os seres humanos e a Terra.

Ao almejarem "o outro mundo possível", os participantes se empenham em conquistar uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições democráticas a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos.

Tribuna livre e apartidária, não governamental nem confessional, o FSM não tem caráter deliberativo. Embora funcione como instância articuladora, não nutre a pretensão de ser um espaço de representatividade da sociedade civil mundial. Nele há plena diversidade de gêneros, etnias, culturas e gerações.

Espera-se que, do debate democrático no FSM, surjam propostas para resolver os problemas de exclusão e desigualdade social que o processo de globalização capitalista, com suas dimensões racistas, sexistas e destruidoras da natureza, impõe à maioria da humanidade.

As três primeiras edições do FSM -realizadas em Porto Alegre, em 2001, 2002 e 2003-, foram organizadas por um comitê integrado por oito entidades brasileiras: Abong, Attac, Comissão Brasileira de Justiça e Paz, Cives, CUT, Ibase, MST, e Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

A quarta edição ocorreu em Mumbai (Índia), em janeiro de 2004. A quinta retornou à capital gaúcha, em janeiro de 2005, e funcionou à base de oito grupos de trabalho: Espaços, Economia Popular Solidária, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Cultura, Tradução, Comunicação, Mobilização e Software Livre.

O 6o FSM ocorreu, de forma descentralizada, em três cidades: Bamako (Mali, África), em janeiro de 2006; Caracas (Venezuela, América), também em janeiro do mesmo ano, e Karachi (Paquistão, Ásia), em março de 2006. A sétima edição do FSM teve como palco Nairóbi, no Quênia, em janeiro de 2007.

Os interessados em participar, à longa distância, do Fórum de Belém, devem acessar: http://openfsm.net/projects/fsm2009interconexoes. Para quem pretende ir a Belém: http://www.fsm2009amazonia.org.br/como-participar

No evento, o filósofo e cientista político Michael Lowy e eu abordaremos o tema "Ecossocialismo: espiritualidade e sustentabilidade", além de participarmos de outras atividades.



Fonte: http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=36997

domingo, 25 de janeiro de 2009

PJMP comemora 30 anos

De 26 a 30 de janeiro acontece o 3º Congresso Nacional em comemoração aos 30 anos da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), em Bom Jesus da Lapa (BA), com o tema: “PJMP: 30 anos de fé e vida no meio popular”.


Durante os cinco dias acontecerão celebrações, mesas redondas, oficinas e, à noite, shows culturais com artistas regionais e nacionais. Para os jovens que participarão do Congresso, os principais objetivos são fazer do evento um momento de animação e fortalecimento da juventude de todo o Brasil, bem como dar sentido a uma vivência espiritual e comunitária, por meio de oração, partilha e solidariedade.


ORAÇÃO PELO 3º CONGRESSO NACIONAL DA PJMP

Senhor Deus! Nosso Bom Pai dos homens e das mulheres, dos pequenos e dos grandes, dos jovens e das crianças, dos idosos e dos enfermos, pai de toda família humana, nós vos agradecemos pelo dom de nossas vidas.
Do nascer ao pôr do sol, sob o esplendor do luar e do brilho das estrelas, nós vos louvamos pelo dom da vida e da natureza.


Ao som do vento que canta, da chuva fria que molha a terra e faz gerar os alimentos, nós vos bendizemos por tudo que gera vida e a faz digna de ser vivida.

Obrigado, Senhor, pelos 30 anos de vida de nossa Pastoral da Juventude do Meio Popular.
Obrigado, Senhor, por termos sido, ao longo desse tempo, instrumentos de vida para outros jovens sedentos e famintos de dignid

ade, cidadania e vida plena.


Nós vos pedimos, abençoai nosso Congresso, a ser realizado aos pés do Senhor Bom Jesus da Lapa. Que seja um momento de comunhão para juntos celebrarmos a vida, e de luz para unidos pensarmos o futuro que nos des

afia.


De mãos dadas, com um só pensamento e de coração que bate junto, queremos, como discípulos e missionários, sermos instrumentos de amor e de paz para toda a juventude e em especial a do meio popular.
AMÉM!

(D. Frei Luiz Flávio Cappio – Bispo da Diocese da Barra – BA)


sábado, 24 de janeiro de 2009

III Fórum Mundial de Teologia e Libertação



por Ana Rogéria*

Em sua terceira edição, o Fórum Mundial de Teologia e Libertação reúne, na Fundação Cultural do Pará, em Belém, centenas de teólogos e teólogas de várias partes do mundo. Com a temática voltada para o meio ambiente, o Fórum se coloca em dia com uma preocupação global.
O secretário executivo do FMTL, Luiz Carlos Susin, falou à ADITAL sobre os assuntos que cercam a teologia e faz uma avaliação das edições anteriores. Confira a entrevista.

Adital - O Fórum Mundial de Teologia e Libertação tem se firmado como espaço de reflexão autônoma da teologia. O que significa isso no panorama da teologia mundial?

Luiz Carlos Susin - O Fórum está se consolidando como um espaço de encontro ecumênico de teólogos e teólogas que trabalham com o debate das igrejas com a sociedade. Não é uma teologia propriamente das igrejas, embora seja uma teologia que também tenha como raízes as tradições de diversas igrejas, mas ela é uma teologia que busca abrir caminhos nas grandes questões que hoje são interrogações para a humanidade e que dizem respeito também a nossa fé, nossa espiritualidade. Deus está em causa também. E que está no âmbito do Fórum Social Mundial onde também são debatidas questões de ordem fundamental para os próximos passos do planeta terra, pois estamos discutindo justamente o futuro do planeta.

Adital - Hoje se observam várias vertentes da teologia. Teologia da Terra, das Mulheres....Como se avalia essa diversidade?

Luiz Carlos Susin - Essas Teologias, no plural, elas se devem a toda uma mudança que nós tivemos daquela imposição de um único pensamento, de uma única teologia que sempre foi pensada como a teologia universal. Mas na verdade era a teologia da história da Europa, é quando a gente redescobre de algum modo outras formas de pensamento, de sabedoria que tem espiritualidade, que tem experiência de Deus e que estão submersas, que não tinham palavras, que por muito tempo ficaram reprimidas. Na relação de gênero, por exemplo, a voz teológica das mulheres não se fazia ouvir. A teologia tem uma marca patriarcal. Então é claro que todos os processos de libertação possibilitaram emergir esses diferentes discursos que criam um pluralismo teológico, criam uma diversidade de vozes teológicas. Hoje só é possível a gente ser relevante, se a gente pode também entrar nessa sinfonia de muitas vozes para fazer a teologia. Não há pretensão de hegemonia. Isso seria voltar a um sistema que a gente luta para superar.

Adital - E quanto às divergências sobre essa pluralidade?

Luiz Carlos Susin - Entre as novas formas de teologia existe muita convergência. O fórum é um lugar de convergência. Se você toma, por exemplo, teologia índia, teologia feminista, ecoteologia, você encontra convergência, maneiras e aspectos que enriquecem um ao outro. O que temos de possível conflito é entre a pretensão de universalidade de uma única voz teológica com essa diversidade.

Adital - O Fórum está em sua terceira edição. Que avaliação o senhor faz dessas edições?

Luiz Carlos Susin - Nós podemos dizer que há um crescimento contínuo. Não só na participação, mas na forma de acontecer o Fórum. Olhando para trás, podemos dizer que o primeiro não passou de um congresso, onde havia uma representação dos continentes. O segundo já teve a dinâmica de um fórum. Esta edição aumentou esta dinâmica. Nós criamos novas possibilidades de espaços e de alternativas simultâneas dentro da edição porque essa é a proposta do Fórum, de troca de experiências. A gente sente que houve um salto na qualidade.

Adital - Este edição tem como eixo o meio ambiente. Poderia falar mais sobre o tema?

Luiz Carlos Susin - Este ano o enfoque é o meio ambiente, a ecologia como uma dimensão a ser incorporada nas grandes questões da teologia que quer libertação, que quer justiça, que quer reconhecimento de dignidade. Então temos facilidade de diálogo interreligioso. Na África, fizemos este diálogo com muçulmanos, com a religião tradicional africana, com o hinduísmo que está muito vivo por lá. Aqui o nosso diálogo é, sobretudo, com a teologia índia e com os próprios povos indígenas que estão presentes. E isso faz com que tenhamos muito mais espaço para incorporar a mística e, ao mesmo tempo, estamos afinados com uma grande questão do nosso tempo, da qual ninguém pode se eximir, que é a crise ambiental. Todo mundo está disposto a dar sua colaboração e a saber o que isso significa para o nosso futuro, para uma nova concepção do ser humano e das suas relações com o mundo.

Luta de Irmã Dorothy é referência no Fórum Mundial de Teologia e Libertação

"Água e terra para um outro mundo possível". Com esse lema, a terceira edição do Fórum Mundial Teologia e Libertação, que acontece até o dia 25, na Fundação Cultural do Pará, em Belém, não deixaria de dedicar um espaço à Irmã Dorothy, nome que hoje se traduz em símbolo de luta e resistência dos povos amazônicos.

No Espaço Dorothy, no hall que antecede o auditório onde se realizam os painéis, impossível não sentir a força do comitê e a vontade de justiça ainda não saciada pela morte da irmã Dorothy Stang, em 12 de fevereiro de 2005, em Anapu (PA). Estão lá cartas da década de 80 denunciando a grilagem e o desmatamento, vídeos com depoimentos de ambientalistas renomados, e alguns punhados da terra do local onde a irmã foi morta.

"Esse espaço é para chamar a atenção para tudo o que Dorothy foi, é e continua sendo. Isso diz respeito à luta pelo meio ambiente, à luta contra a impunidade, a grilagem, o desmatamento. As cartas dela continuam atuais", afirma irmã Julia Depweg, integrante do Comitê.

Dorothy, assim como Chico Mendes, está dentro dessa luta de todos e todas que desejam e trabalham por um mundo melhor, que é possível. De acordo com irmã Julia, hoje o legado deixado por Stang continua vivo. "Uma pena que com a morte dela, talvez hoje se consiga chamar mais atenção para os problemas ambientais. Foi uma escolha dela. Sempre queriam que ela recebesse proteção especial, mas ela insistentemente não queria. Queria proteção para toda a comunidade", conta Julia.

Hoje, quando se completam quase quatro anos de sua morte, o Comitê lamenta a decisão da justiça, que absolveu Viltamiro Bastos, mandante do assassinato de Stang. "Nunca esperávamos que ele fosse perdoado pela justiça", conta relembrando o dia da sentença. "Quando saiu a sentença, todos nos ajoelhamos e escutamos a notícia da absolvição. Por isso, não podemos lidar com isso que eles chamam de justiça. Que justiça é essa?", indaga.

No próximo dia 28, dentro da programação do Fórum Social Mundial, será exibido o documentário "Mataram Irmã Dorothy", que trata do trabalho da missionária que dedicou 30 anos de sua vida em apoio aos excluídos.

As matérias do projeto "Ações pela Vida" são produzidas com o apoio do Fundo Nacional de Solidariedade da CF2008.


Ana Rogéria*, diretora da Adital, direto de Belém-PA.

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=37005

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Igreja de Mártires

Igreja de Mártires

Os nossos dias exigem muita coragem para viver. Há tantos motivos de preocupação e tantas angústias, mesmo se, no fundo, é também belo viver neste tempo, tão cheio de esperanças de um futuro mais sereno e mais humano.
Muitos arriscam a vida, também, para defender suas idéias e sua liberdade, e não faltam exemplos luminosos de heroísmo.
O cristão é levado, igualmente, a arriscar para permanecer tal. Não será verdade, talvez, que em algumas partes da humanidade ainda existe opressão e perseguição, levando os que desejam permanecer fiéis a Cristo a viverem escondidos, como no tempo das perseguições? E, muitas vezes, quando descobertos, pagam com a vida.
Mesmo aonde não se chega a tanto, há sempre uma perseguição latente: és boicotado, colocam-te mil obstáculos, és ridicularizado só porque queres viver seriamente como cristão!
Essa perseguição, entretanto, não é novidade. Desde quando Cristo foi colocado numa cruz, teve início uma longa história que já dura dois mil anos: a história dos mártires cristãos, que jamais conhecerá a palavra "fim". Ele disse: "Se perseguiram-me, perseguirão também a vós". É uma nota característica e perene da Igreja de Cristo: ela é Igreja de Mártires.
Autor desconhecido

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Onde não há utopia não há futuro"

Para dom Pedro Casaldáliga, somente a construção de um mundo só (e não dois ou três ou quatro) poderá salvar a Humanidade. Segundo ele, é utopia, mas uma utopia "necessária como o pão de cada dia".

por Nilton Viana

Dom Pedro Casaldáliga tem sido uma voz firme na defesa de que, para o socialismo novo a utopia continua. E esclarece: a utopia de que falamos, a compartimos com milhões de pessoas que nos precederam, dando inclusive o seu sangue, e com milhões que hoje vivem e lutam e marcham e cantam. Para ele, esta utopia está em contrução, somos operários da utopia.

Mesmo convivendo com o “irmão Parkinson”, como ele mesmo define a doença de Parkinson - uma enfermidade neurológica, que afeta os movimentos da pessoa, causa tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio além de alterações na fala e na escrita - carinhosamente respondeu às nossas perguntas. E, nesta entrevista ao Brasil de Fato, Casaldáliga fala do “absurdo criminal de constituir a sociedade em duas sociedades de fato: a oligarquia privilegiada, intocável, e todo o imenso resto de humanidade jogada à fome, ao sem-sentido, à violência enlouquecida”. E defenque que, hoje, só a participação ativa, pioneira, de movimentos sociais pode retificar o rumo de uma política de privilégio para uns poucos e de exclusão para a desesperada maioria. E adverte: o latifúndio continua a ser um pecado estrutural no Brasil e em toda Nossa América.

Brasil de Fato - Como o senhor tem visto a devastadora crise que já afeta todos os países e principalmente a classe trabalhadora?

Dom Pedro Casaldáliga - Com muita indignação e revolta; com uma sensação de importência e ao mesmo tempo a vontade radical de denunciar e combater os grandes causantes dessa crise. Esquecemos, fácil demais, que a crise fundamentalmente é provocada pelo capitalismo neoliberal. Irrita ver governantes e toda a oligarquia justificando que as economias nacionais devam servir ao capital financeiro. Os pobres devem salvar economicamente aos ricos. Os bancos substituem a mesa da familia, as carteiras da escola, os equipamentos dos hospitais...

Eu estava comentando ontém (19 de dezembro) com uns companheiros de missão que a avalanche de demissões acabará justificando uma avalanche de assaltos, por desespero. Está crescendo cada dia mais o absurdo criminal de constituir a sociedade em duas sociedades de fato: a oligarquia privilegiada, intocável, e todo o imenso resto de humanidade jogada à fome, ao sem-sentido, à violência enlouquecida. Fecham-se as empresas, quando não conseguem um lucro voraz, e se fecha o futuro de um trabalho digno, de uma sociedade verdadeiramente humana.

Como o senhor analisa o papel dos movimentos sociais frente a atual conjuntura?

Já faz um bom tempo que, sobretudo no Terceiro Mundo (concretamente no nosso Brasil, na Nossa América), se vem proclamando por cientistas sociais e dirigentes populares que hoje só a participação ativa, pioneira, de movimentos sociais pode retificar o rumo de uma política de privilégio para uns poucos e de exclusão para a desesperada maioria. Os partidos e os sindicatos têm ainda sua vez; devem conservá-la ou reivindicá-la. Sindicato e partido são mediações políticas indispensáveis; mas o movimento social organizado, presente no dia-a-dia do povo, é sempre mais urgente, como uma espécie de "vanguarda coletiva".

Diante deste cenário, na sua avaliação, quais são as alternativas para os pobres do mundo hoje?

A alternativa é acreditar mesmo, que "Outro Mundo é Possível" e se entregar individualmente e em comunidade ou grupo solidário a ir fazendo real esse "mundo possível". O capitalismo neoliberal é raiz dessa crise e somente um caminho para a justiça e a paz reinarem no mundo: socializar as estruturas contestando de fato a desigualdade socio-econômica, a absolutização da propriedade e a própria existência de um Primeiro Mundo e um Terceiro Mundo, para ir construindo um só Mundo, igualitário e plural. Com frequência respondo a jornalistas e amizades do Primeiro Mundo que somente a construção de um mundo só (e não dois ou três ou quatro) poderá salvar a Humanidade. É utopia, uma utopia "necessária como o pão de cada dia". Onde não utopia não futuro.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/onde-nao-ha-utopia-nao-ha-futuro

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A mobilização pelas lágrimas

O poder de agendamento da telenovela passa ao largo da politização
por Malu Fontes*

Dificilmente contesta-se a tese de que a idéia que o mundo tem dos Estados Unidos, da identidade dos norte-americanos e do american way of life é resultado da engrenagem cinematográfica hollywoodiana, que espalhou pelo planeta muito mais que filmes, divas e galãs. Exportou e produziu não apenas histórias telecontadas. Foi além: forjou, em todo o mundo, sonhos, modos de vida, fantasias e predominantemente caricaturas da história do imperialismo que representa. Foi fundamental para ensinar e difundir desde gestualidades sensuais, sexuais e narrativas amorosas a ideologias políticas e de consumo, passando pelo poder de dourar a supremacia do capitalismo.

Cada um tem a Hollywood que pode e, no Brasil pode-se dizer sem risco de errar que a telenovela está para a construção do imaginário nacional assim como o cinemão hollywoodiano está para a idéia que o mundo tem dos Estados Unidos da América. Não importa que os intelectuais e os mais letrados torçam o nariz para o produto, quase uma unanimidade negativa entre os bem formados nas melhores universidades do país. O fato é que, embora a telenovela brasileira seja vista sob uma aura de sinistrose pela intelligentsia, ela foi, é e continua a ser o produto de consumo cultural mais importante, democrático e acessível às massas do país. Chega, levando o mesmo texto, as mesmas tramas e narrativas estéticas, tanto às suítes nababescas dos condomínios de luxo quanto aos barracos de um cômodo só, que podem até não ter geladeira, mas têm um aparelho de TV e, não raro, nos rincões brasileiros, uma antena parabólica para garantir a boa recepção das imagens.

SEM LIVRO – O poeta e semiólogo Décio Pignatari já disse que a televisão brasileira teve um papel de alfabetizadora nacional para todo um contingente populacional que dos anos 60 para cá migrou, analfabeto ou com baixíssimo letramento, para os grandes centros urbanos. Essas pessoas, vindas de uma cultura essencialmente oral e restrita ao lugar onde habitavam, onde as trocas simbólicas tinham dimensões limitadas e o exercício da abstração era parcamente alimentado, de uma hora para outra, sem escalas, começam a apreender o mundo das cidades, as práticas, os hábitos e as aparências dos mais favorecidos através de uma espécie de manual televisual de urbanidade eletrônico, na tela da TV, sem antes terem passado pela cultura do livro.

Não precisa ir muito longe para imaginar os abismos simbólicos provocados por essa transposição armengada sobre o canyon cultural existente entre dois mundos, o rural e o urbano, o letrado e o iletrado, o mundo dos poucos muito ricos e dos muitos muito pobres. Ao olhar para a novela, embalada pela emotividade minuciosamente pensada previamente, toda uma miscelânea sócio-econômica começa a ver a mesma coisa, consumir os mesmos estímulos visuais e é assim até hoje. Em tempos em que a ditadura militar ajudou a estruturar um sistema de telecomunicações que proporcionasse a população uma idéia de integração e unidade nacional, a telenovela foi um instrumento perfeito, um achado. Um país se via na TV, com quase tudo homogeneizado, pois se tem algo que nunca funcionou na televisão brasileira foi a regionalização. Do Amazonas ao Rio Grande consome-se praticamente o mesmo caldo televisivo quase que totalmente produzido no eixo Rio-São Paulo.

PASSIONALIDE - Embora produzida no mesmo centro cultural e geográfico, a telenovela pauta o repertório e a subjetividade de um país inteiro. Muda comportamentos, emociona, produz ódios nacionais e mobiliza contingentes populacionais inimagináveis, de tal modo que todo ativista ou militante de uma causa social hoje sonha não com uma matéria em um telejornal nacional, mas com a inserção de sua causa em uma telenovela, com um autor que a adote e coloque-a nas falas e atitudes da mocinha da trama ou do galã. Uma personagem de novela, linda, loura, rica, jovem e carioca, como a Camila interpretada por Carolina Dieckman em Laços de Família, de Manoel Carlos, precisa de um transplante de Medula: imediatamente o país assiste a uma generosidade sem antecedentes de doadores que procuram bancos de medula país afora.

Diante de tamanho potencial de mobilização da telenovela, paradoxalmente chama atenção o fato de o produto agendar de tal modo o repertório, os costumes e o comportamento nacionais sem passar perto da politização dos temas que aborda. Ao contrário, é sempre acusada, com justiça, de despolitizar a audiência. Ao defender suas causas jamais o faz pelo viés ideológico ou sócio-político, mas tão somente pela emoção, pelo estímulo à parcialidade das lágrimas e pela identificação com fantasias românticas de folhetim. Uma explicação para que seja assim e mobilize tanto talvez esteja no fato de que, para além da língua, a passionalidade seja uma das raras coisas comuns a um povo de um país tão amplo, diverso e multifacetado. A outra é a velha e boa tese da alienação proposital denunciada pelos críticos como sendo a marca do veículo televisão.

Malu Fontes* é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA;

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A grandeza de um educador: Paulo Freire, sua fé e a Teologia da Libertação

Alguns dias atrás, folheando alguns materiais sobre educação, em especial sobre o educador Paulo Freire; deparei-me com um vídeo que logo chamou atenção. Tratava-se sobre uma magnífica entrevista do incansável educador Paulo Freire acerca de sua fé e sua relação e postura de trabalho como cristão.
Ao longo de sua maturidade e já delimitado pelos seus últimos anos de caminhada, Paulo Freire falava em sua última entrevista, sobre a sua relação com a educação, com o poder transformador que a educação proporciona enquanto fator sócio-transformador direto e relata belissimamente onde baseou-se para editar suas teorias. Muitos o chamam de utópico, sonhador e que se afasta da realidade, mas Freire revela sua dedicação em especial aos mais necessitados. O olhar solidário sobre os mais necessitados nasce sobre sua fé em Cristo e na vida prática cristã dessa fé. Com toda sua serenidade ele equipara essa fé a uma vida prática, na proximidade com Cristo vivenciando e contribuindo na formação da vida das pessoas: é uma postura ética e de coragem, que exige desapego e total dedicação das energias em prol da causa.
E foi assim, que Paulo Freire viveu, defendendo incessantemente sua paixão e amor pela educação, pelo caráter humano e sócio-transformador do educador e pela contribuição que esse educador tem a dar por nossa sociedade. Ele comenta ainda, nessa entrevista, essa sua proximidade com a vida cristã prática, com a ética e com a doação nesse papel transformador cristão: E foi assim que ele viveu até seus últimos dias de vida, com exemplar doação e dedicação.

*Paulo Freire é um dos pedagogos mais admirados e respeitados em todo o mundo. É autor de livros célebres como a "Pedagogia dos Oprimidos", "Educação como prática da liberdade" e "Pedagogia da Autonomia".