terça-feira, 30 de novembro de 2010

XLI



Cantar,
uma nova canção
Pra ressoar no teu ouvido baixinho.

Levar,
Todo verso que chega
Na rima imprevista que se suicida.

Chamar,
Toda chama que acende
uma vida, uma história comprida.

Querer,
Teu espaço no quarto tecido
Nas luzes que brilham sem parar.

Chegar,
No futuro presente que passa
No olhar de quem sonha demais.

Partir,
Como parte em pedaços a arte
Da estrada que se vai e não volta atrás.

domingo, 28 de novembro de 2010

Composição incerta


Antes que eu dissesse que era por amor
Você disse que não dava mais
Eu pensei que tudo fosse compaixão
Você disse que eu não era capaz.

Mas acontece que na vida sempre há
O bastante pra provar, [- o amor] nunca é demais
Tudo acaba e sempre volta pro lugar
E só pensar naquela nossa paz.

E você jogou fora, tudo o que eu comecei a pensar
E você, que logo foi embora, pra nunca mais voltar
Jogou fora todo o seu passado.
E o que se aventurou a procurar. [- e encontrou]

Quando você se puser a lembrar
Da lembrança que nunca se apagou
Tarde tempo, vida nova, sempre alcança
Recomeço novo sempre no mesmo lugar;

E as lembranças que ficaram na história
São demais para passar ao final,
Logo chega, vai, embora, corre, volta, pensa
Agora, é nunca mais.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Iceberg



Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma outra estação



fere de longe o verão
na insensatez da tua calma estação.

fere mais uma vez,
pelos dias da vida que se vão,

vão pela estação do trem da vida
cada não que se vai,

vai trazer novo sim no teu cais
novo barco atracado na espera,

espera que nada te traga novamente
a saudade que fere de longe o verão

da insensatez da tua calma estação
fere mais uma vez,

pelos dias que se vão,
vão pela estação do trem da vida

cada não que se vai,
vai trazer novo sim no teu cais

novo barco atracado na espera.
espera que nada te traga novamente

a saudade que fere de longe o verão
na insensatez da tua calma estação...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amanhecer



Nas lutas travadas sozinhas ou em mutirão
Em cada pingo de suor que ficou pelo chão
Nas rosas e sonhos partidos ao meio
No vento que sobra em permanente anseio

No roda que gira pro olho do furacão
Por entre as feridas marcadas, nas mãos
Por meio meio dos sonhos jogados
Na força do novo dia com sangue manchado

Vai nascer uma nova canção
em verso e canto novo da revolução.

Braçadas e mortes em teus Brasis
Brasão de suporte a mãe tão gentil
Por trás do mundo um novo canto se faz
Vai levar a todo canto, nova canção de paz;

Por detrás dos teus tons novo canto de amor
Por entre teus lábios, palavras de força
Vai ganhar novo dia teu brilho em flor
Pra lembrar toda dor que não se cansa...

domingo, 7 de novembro de 2010

XL



Eu vi teu olhar
E o apresso do verso
Soando em canção.

Eu vi os lábios dela
Soprando entre as flores
E o jardim entreabrindo-se
Aos seus doces olhares.

Eu vi, a mais viva,
a mais bela canção
Quando ela chegou
E beijou suas mãos.

Eu vi traspassar
o teu lirismo novo
na bossa velha
do teu peito.

Eu vi o teu mundo
começar e acabar
em menos de um segundo,
pra sempre.

sábado, 6 de novembro de 2010

Recordando olhares



Soa canto novo, em cada nova descoberta,

Alinhavei-me em tuas cores.

crtl + D a poesia que vem cantar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Beijo de Pedro














A estrada foi longa e já era meio dia do 21 de outubro.
Itamar, nosso companheiro, motorista, estacionou a Kombi na sombra de um Ipê, pleno das primeiras folhas, após passagem das primeiras chuvas no cerrado goiano.

Entramos no pequeno hospital de Ceres, para acolhermos a graça da visita tão esperada.

Ali, sentado numa cadeira, tomando soro, frágil no corpo, luminoso na alma, você, Irmão Pedro, nos acolhe com o brilho de sempre, com certeza mais transfigurado ainda, pelos desafios da idade e das “irmãs doenças” que vão chegando na estação que a vida te apresenta. Um abraço muito especial a cada um de nós – Eliane, cantora; Heriberto, músico; Itamar e Eu, a quem me chamas carinhosamente de “Moleque da Caminhada”.

Emocionado te beijei na fronte. Beijo comunitário, em nome de tanta gente que me encarregou desta visita. Mesmo pronto para viagem a Goiânia, onde faria os últimos exames antes de uma cirurgia, você, nosso Pedro, não parou de falar, com palavras e os gestos tão característicos – querendo saber de nossas ações de arte, lembrou que espera ouvir a música que compus sobre o teu poema a São José, segurou minhas mãos e falou baixinho – “ dias 16 e 17 de julho de 2011, no Santuário dos Mártires, Ribeirão Cascalheira...”. Brinquei sério e crente: “Você tem obrigação de estar vivo até lá”! Tua resposta serena e sorridente: “De qualquer maneira é Páscoa!”, tua expressão soou como um misto de código e profecia.

Ao Heriberto, de origem Tabajara, falou: “ um índio!” E contando os dedos exclamou: “ Lingua! Memória! Terra...” Revelando a tua paixão crônica pelos povos a quem amaste incondicionalmente. Para Eliane, mais gestos de carinho. Menos de quinze minutos de relógio, ampliados na divina dimensão cósmica, para a vastidão eterna do tempo-amor ao qual pertencemos todos e todas as criaturas.

Saímos rápido, para a 4ª Romaria dos Mártires, em Carmo do Rio Verde, em memória dos 25 anos do assassinato de Nativo da Natividade. Mesmo que o nosso coração pedisse para continuar um pouco mais contigo ali em vigília de amizade e cumplicidade, a missão de arte-vida nos avisava para seguir.

No Pátio do Hospital, recolhi várias sementes do Ipê Amarelo, as quais envolvi num lenço de papel. Sementes ungidas, como nossa fronte, com o teu beijo e nossas lágrimas da mais pura e agradecida emoção, ao Divino e a você: Pedro nosso, de tantos povos, do universo, do Deus da Vida Plena, sempre em estado de Páscoa permanente!

Amém! Axé! Aweré! Aleluia!


Fortaleza, 25 de outubro de 2010
Zé Vicente

terça-feira, 2 de novembro de 2010

XXXIX



brotou uma flor no jardim da minha espera... era ela

por que nao liberta-se de mim?
tua face que me prende e consome, faz das elegias tortas,
de retilíneas cores prever a utopia doce do falso pulsar...

quem é ela? que se esconde por de trás do meu olhar?
a iluminar toda fronte...
a raiar todo dia...

quem é ela que consome o medo em um sorriso versante?
oferece-me abrigo, sem entender onde.

quem é ela...
por-se-ia dentro de mim?
por que???

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

XXXVIII

Ver, da demolição completa alma
escorre ferido peito seu
és mais tenso do que forte
és mais denso do que foste.
Leva rios,
leva mares,
leva tudo - leves.