domingo, 5 de dezembro de 2010

Converse (ou Cantiga de Ninar)



Converse com o vento
que voa com verso e
refrão que ressoa

Reavendo rimas
sem verso, estrofe
e sentido.

Ressoe, recicle
o reverso
previsto.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

XLII



E, foi com você que tive um novo amor
meu novo sabor de viver.
E, foi com você que aprendi a esquecer.

A vida passada, deixada, jogada no chão
no terreno repleto de coisas manchadas
no peito, na alma, e no coração.

Eu aprendi a prender teu apelo
no jeito, do medo, no escuro,
vazio de meu peito...

E é sempre tão vazio lá fora
Na estrada do mundo que passa
pra dentro do nada.

E o acaso que joga na história
Conquistas marcadas, vitórias
que não dizem mais nada.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

XLI



Cantar,
uma nova canção
Pra ressoar no teu ouvido baixinho.

Levar,
Todo verso que chega
Na rima imprevista que se suicida.

Chamar,
Toda chama que acende
uma vida, uma história comprida.

Querer,
Teu espaço no quarto tecido
Nas luzes que brilham sem parar.

Chegar,
No futuro presente que passa
No olhar de quem sonha demais.

Partir,
Como parte em pedaços a arte
Da estrada que se vai e não volta atrás.

domingo, 28 de novembro de 2010

Composição incerta


Antes que eu dissesse que era por amor
Você disse que não dava mais
Eu pensei que tudo fosse compaixão
Você disse que eu não era capaz.

Mas acontece que na vida sempre há
O bastante pra provar, [- o amor] nunca é demais
Tudo acaba e sempre volta pro lugar
E só pensar naquela nossa paz.

E você jogou fora, tudo o que eu comecei a pensar
E você, que logo foi embora, pra nunca mais voltar
Jogou fora todo o seu passado.
E o que se aventurou a procurar. [- e encontrou]

Quando você se puser a lembrar
Da lembrança que nunca se apagou
Tarde tempo, vida nova, sempre alcança
Recomeço novo sempre no mesmo lugar;

E as lembranças que ficaram na história
São demais para passar ao final,
Logo chega, vai, embora, corre, volta, pensa
Agora, é nunca mais.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Iceberg



Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Uma outra estação



fere de longe o verão
na insensatez da tua calma estação.

fere mais uma vez,
pelos dias da vida que se vão,

vão pela estação do trem da vida
cada não que se vai,

vai trazer novo sim no teu cais
novo barco atracado na espera,

espera que nada te traga novamente
a saudade que fere de longe o verão

da insensatez da tua calma estação
fere mais uma vez,

pelos dias que se vão,
vão pela estação do trem da vida

cada não que se vai,
vai trazer novo sim no teu cais

novo barco atracado na espera.
espera que nada te traga novamente

a saudade que fere de longe o verão
na insensatez da tua calma estação...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Amanhecer



Nas lutas travadas sozinhas ou em mutirão
Em cada pingo de suor que ficou pelo chão
Nas rosas e sonhos partidos ao meio
No vento que sobra em permanente anseio

No roda que gira pro olho do furacão
Por entre as feridas marcadas, nas mãos
Por meio meio dos sonhos jogados
Na força do novo dia com sangue manchado

Vai nascer uma nova canção
em verso e canto novo da revolução.

Braçadas e mortes em teus Brasis
Brasão de suporte a mãe tão gentil
Por trás do mundo um novo canto se faz
Vai levar a todo canto, nova canção de paz;

Por detrás dos teus tons novo canto de amor
Por entre teus lábios, palavras de força
Vai ganhar novo dia teu brilho em flor
Pra lembrar toda dor que não se cansa...

domingo, 7 de novembro de 2010

XL



Eu vi teu olhar
E o apresso do verso
Soando em canção.

Eu vi os lábios dela
Soprando entre as flores
E o jardim entreabrindo-se
Aos seus doces olhares.

Eu vi, a mais viva,
a mais bela canção
Quando ela chegou
E beijou suas mãos.

Eu vi traspassar
o teu lirismo novo
na bossa velha
do teu peito.

Eu vi o teu mundo
começar e acabar
em menos de um segundo,
pra sempre.

sábado, 6 de novembro de 2010

Recordando olhares



Soa canto novo, em cada nova descoberta,

Alinhavei-me em tuas cores.

crtl + D a poesia que vem cantar.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Beijo de Pedro














A estrada foi longa e já era meio dia do 21 de outubro.
Itamar, nosso companheiro, motorista, estacionou a Kombi na sombra de um Ipê, pleno das primeiras folhas, após passagem das primeiras chuvas no cerrado goiano.

Entramos no pequeno hospital de Ceres, para acolhermos a graça da visita tão esperada.

Ali, sentado numa cadeira, tomando soro, frágil no corpo, luminoso na alma, você, Irmão Pedro, nos acolhe com o brilho de sempre, com certeza mais transfigurado ainda, pelos desafios da idade e das “irmãs doenças” que vão chegando na estação que a vida te apresenta. Um abraço muito especial a cada um de nós – Eliane, cantora; Heriberto, músico; Itamar e Eu, a quem me chamas carinhosamente de “Moleque da Caminhada”.

Emocionado te beijei na fronte. Beijo comunitário, em nome de tanta gente que me encarregou desta visita. Mesmo pronto para viagem a Goiânia, onde faria os últimos exames antes de uma cirurgia, você, nosso Pedro, não parou de falar, com palavras e os gestos tão característicos – querendo saber de nossas ações de arte, lembrou que espera ouvir a música que compus sobre o teu poema a São José, segurou minhas mãos e falou baixinho – “ dias 16 e 17 de julho de 2011, no Santuário dos Mártires, Ribeirão Cascalheira...”. Brinquei sério e crente: “Você tem obrigação de estar vivo até lá”! Tua resposta serena e sorridente: “De qualquer maneira é Páscoa!”, tua expressão soou como um misto de código e profecia.

Ao Heriberto, de origem Tabajara, falou: “ um índio!” E contando os dedos exclamou: “ Lingua! Memória! Terra...” Revelando a tua paixão crônica pelos povos a quem amaste incondicionalmente. Para Eliane, mais gestos de carinho. Menos de quinze minutos de relógio, ampliados na divina dimensão cósmica, para a vastidão eterna do tempo-amor ao qual pertencemos todos e todas as criaturas.

Saímos rápido, para a 4ª Romaria dos Mártires, em Carmo do Rio Verde, em memória dos 25 anos do assassinato de Nativo da Natividade. Mesmo que o nosso coração pedisse para continuar um pouco mais contigo ali em vigília de amizade e cumplicidade, a missão de arte-vida nos avisava para seguir.

No Pátio do Hospital, recolhi várias sementes do Ipê Amarelo, as quais envolvi num lenço de papel. Sementes ungidas, como nossa fronte, com o teu beijo e nossas lágrimas da mais pura e agradecida emoção, ao Divino e a você: Pedro nosso, de tantos povos, do universo, do Deus da Vida Plena, sempre em estado de Páscoa permanente!

Amém! Axé! Aweré! Aleluia!


Fortaleza, 25 de outubro de 2010
Zé Vicente

terça-feira, 2 de novembro de 2010

XXXIX



brotou uma flor no jardim da minha espera... era ela

por que nao liberta-se de mim?
tua face que me prende e consome, faz das elegias tortas,
de retilíneas cores prever a utopia doce do falso pulsar...

quem é ela? que se esconde por de trás do meu olhar?
a iluminar toda fronte...
a raiar todo dia...

quem é ela que consome o medo em um sorriso versante?
oferece-me abrigo, sem entender onde.

quem é ela...
por-se-ia dentro de mim?
por que???

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

XXXVIII

Ver, da demolição completa alma
escorre ferido peito seu
és mais tenso do que forte
és mais denso do que foste.
Leva rios,
leva mares,
leva tudo - leves.

domingo, 31 de outubro de 2010

Trazidos dos teus excessos

Vi-me em fragmentos nele.
Pedaços tão meus nele escondidos.
Deixo olhares, agora, distentidos.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

XXXVII

Grito tresloucado
estoura, apavora, desnuda
sopra...

a alma ressoa, intensifica,
...esvaece.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Utopia



Quando o dia da paz renascer
Quando o Sol da esperança brilhar
Eu vou cantar
Quando o povo nas ruas sorrir
E a roseira de novo florir
Eu vou cantar
Quando as cercas cairem no chão
Quando as mesas se encherem de pão
Eu vou cantar
Quando os muros que cercam os jardins, destruídos
Então os jasmins vão perfurmar
Vai ser tão bonito se ouvir a canção
Cantada de novo
no olhar da gente a certeza do irmão
reinado do povo
Quando as armas da destruição
destruídas em cada nação
eu vou sonhar
E o decreto que encerra a opressão
assinado só no coração
vai triunfar
Quando a voz da verdade se ouvir
e a mentira não mais existir
será enfim
tempo novo de eterna justiça
sem mais ódio, sem sangue ou cobiça
vai ser assim
Vai ser tão bonito se ouvir a canção
Cantada de novo
no olhar da gente a certeza de irmãos
reinado do povo.
(Zé Vicente)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Desarrumando - IV (ou dias de faxina)

- IV -

...como posso mais sorrir

se quem estava a minha volta...
chegou, sorriu, encantou, ficou - morreu em mim...
- e me levou junto também?!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Desarrumando - III (ou dias de faxina)

- III -

Hoje, encontrei um coração partido
Espremido, mas ainda vivo
Esmagado por entre as quinquilharias minhas
Nele baixinho, já soterrado pelo esquecimento e pelo tempo dizia:
"Sorria sempre, seu sorriso encanta quem está sua volta".

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Desarrumando - II (ou dias de faxina)

- II -

Não sei porque guardo
essas coisas que sei que nunca vou usar
Será medo do tempo não voltar?
Ou será que esqueci de me renovar?

domingo, 24 de outubro de 2010

Desarrumando - I (ou dias de faxina)

- I -

Eu aqui não sei porque
insisto em ter essas tuas coisas
se sei que não vou te ter.

sábado, 23 de outubro de 2010

Memória














Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão


Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Regresso



Quero a certeza do teu beijo todo dia
Do aconchego e do calor do teu amor
Eu quero a sorte de contigo sempre estar
Ser tão seu, ser teu mar.

Eu quero a vida plena e em abundância
Quero sorriso mais sincero da criança
Eu quero a sorte de contigo sempre estar
Ser teu pão, ser tão mais.

Da vida nova eu quero o sol sempre mais perto
Do teu jeito quero meu mais novo encanto
Eu quero a sorte de contigo sempre estar

Por ser tão meu, quero em ti logo voltar
E novamente o sentido despertar
Eu quero a sorte de contigo sempre estar.

domingo, 12 de setembro de 2010

Linda juventude



Linda juventude
Faz o mundo transformar
Sempre com atitude
Não desiste de lutar...

Sente essa inquietude
Que a vida faz valer
Por fazer tua virtude
Em cada dia a amanhecer

Lembra dos teus sonhos
E de todo bem querer
Será sempre teu apelo
A esperança de viver...

Te unes com o irmão
Numa grande oração
Mostra todo o seu fascínio
Chega de violência e extermínio!

sábado, 11 de setembro de 2010

Haikai

hai! Kai, vai...
cai...
cai, cai, cai...

sábado, 4 de setembro de 2010

Dias de inverno



Eu te plantei no meu jardim
Pra que sempre sorria só pra mim.

Elevei-te no mais denso
e profundo em que há mim
Fiz da noite nova escolha
descrevendo tudo assim,

Eu fiz tudo o que coração permitiu
em sã consciência, do momento
mais sincero e mais sublime
em nossas vidas.

Seria o bastante se não bastasse
tudo assim, tudo tão real
que habitara sempre em mim
e que se revelou dentro de ti.

Mesmo que o tempo há de levar
você com ele pra bem longe,
quando o vento vir chegando
de repente e loucamente...

Nada que elevasse tudo
sempre fica o bastante
do que é perfeito
e pleno na existência...

Nada que o tempo
possa apagar
de mais sublime
Da perfeição divina do amor...

E o que vem depois da primavera?
E o que vem depois da primavera?
E o que vem depois da primavera?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sôbolos rios que vão



Olha, eu talvez seja esse
cadáver desconhecido
que avistam sob uma ponte
com relativo interesse:

Nem sei mais se me matei
se morri por distraido
se me atiraram do cais

--- o mistério é mais profundo,
muito mais...

Vida, sonho de um segundo
---isso é vulgar mas atroz ---
e tenho pena de mim
como a que eu tenho de voz...

e sigo
todo florido
destes nossos velhos sonhos
imortais

---o misterioso tão sem fim ---

eu sigo todo florido
cadáver desconhecido
vogando, lento, à deriva
nos rios todos do mundo!


(Mario Quintana)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

XXXVI



assevera-me a inconstância

a incompletude que meu ser alcança

só de não te ver, ver-te, ver-me, ver só.

provoca e ingessa o pulso, a insegurança

da vida que segue-se ganhando costuras

abertas e sem pontos finais

de não saber tua sina, só.

quem desconhece a essência

de ser essência de fé - sentencia

dó-si-lá aumenta solidão.

domingo, 22 de agosto de 2010

Linda menina

linda menina de águas tão oestes.
No teu jeito lindo de ser
novas margens fizeste.

sábado, 21 de agosto de 2010

Da poesia que não foi...



Meu íntimo é a rota torta e inversa
do meu próprio ser.
Não sabe como partir, sentir
ou mesmo desfazer.

Peito esconde-me de cada manhã
dos roucos medos de ser
E fazer cada vez mais do amanhã
novo parecer sem saber.

Tenho em mim todos os segredos
que posso não saber;
Saber, pois, dos sonhos, dos medos
Desfaz-me refazer

Dentro de meu peito
rasgo meus poemas um a um
Adormecendo na dor escura
no mais íntimo...

Dentro de mim
habita uma coletânea, memórias,
Que vão jogando-se no esquecimento
sem rumo, sem trajetória...

[até perderem-se sem perceber.].

terça-feira, 17 de agosto de 2010

XXXV



do outro lado do lado existe alguém,
faz bem,
é meu passado, meu presente perfeito
remontando-me em traços sem
sem medo, sem jeito....

faço girar meu coração
meu ego
minha direção

...

por ontem, por hoje, castigo
sonhei sempre mais
sonhei sempre estar contigo
mas você não chega mais

...

será que perdeu-se consigo?
será que conseguiu um dia
um outro abrigo?
brigo em minhas próprias razões

não sei onde está, onde estou
sempre me obrigo
a sonhar outra vez,
ver-me sempre contigo

e um dia longe da solidão
E do perigo...
da ausência da gélida manhã
serei feliz outra vez contigo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Monotonia



É segundo por segundo
Que vai o tempo medindo
Todas as coisas do mundo
Num só tic-tac, em suma,
Há tanta monotonia
Que até a felicidade,
Como goteira num balde,
Cansa, aborrece, enfastia...
E a própria dor - quem diria? -
A própria dor acostuma.
E vão se revezando, assim,
Dia e noite, sol e bruma...
E isto afinal não cansa?
Já não há gosto e desgosto
Quando é prevista a mudança.
Ai que vida!
Ainda bem que tudo acaba...
Ai que vida tão cumprida...
Se não houvesse a morte, Maria,
Eu me matava!

(Mario Quintana)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Nuances teus



Quem te roubou de você mesma?
Aquele rápido olhar ruborizado,
entregue, ávido a calma sina,
Assina agora o compasso partido
olvidado sem mais trajetória.

O angelical adormecer...
Onde fora parar aquele brilho?
não pode mais soerguer,
Da canção mais pura entreaberta
agora latente em tua história.

O mais que sinfônico
Vento que aproximava nossas almas
à luz da lua que ligava
Nossas vozes e canções
você escondeu a sintonia.

E o beijo que tocava
Face a face,
nossas vidas por inteiro
Fez-se escuro de repente
escorre em ti por simpatia.

Da perfeita e feliz partilha
Da vida fez-te excludente
jogou-a fora valioso tesouro
A vida cheia e engrandecida
Fê-la fraca e em si vazia.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O que vem depois?



O que vem depois do colorido do teu olhar?
Ponho-me de vez em parte
Sem mais poder imaginar

Da angústia a toda parte erra
Jaz de si, tanta espera
Ei-la perdida e fria

A lágrima, gota mais pura
Indeferida no teu seio
Fere-se por completa

Sê-la mais húmida e quente
Feitio dissonante
Rota e inerme assevera

Já não sei, sei, lá se ia
Sê-la fosse em partida
Aquecer teu corpo, tua vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Inconstância




Eu sou a inconstância de todas as coisas
não sei se me acomodo ou sigo incomodando
Se reprovo ou fico a rejeitar.

Não sei se vivo ou peno a existir
se demoro ou sigo a insistir
Não sei se rio ou volto a alegrar.

Se à noite escureço ou rejeito clarear
ao entristecer esqueço de chorar
Ao partir, vejo que já fui.

De manhã quando clareia o dia
já estou a iluminar
e quando demora a ceia, já estive a cear.

Se vejo meu ontem, já estive a sonhar
se a sonhar depois, já era hora de voltar
pro mesmo lugar de outrora.

Quando esqueço de partir
vejo que já é tarde
nem mais posso insistir.

sábado, 26 de junho de 2010

XXXIV



Do âmago à essência plena
que corre...todo mel escorre
sangue nas veias
retilíneas veias que levam
sangue...

nesse suor de dias
Sôfregos.

Eu, só, que sofro,
Tua falta, tua ausência...

Eu só assim, queria
Olhar novamente teu olhar
tua face angelical
E deleitar-me sobre o mais puro sorrriso
...que tenho, ruborizado e incontido
sorriso..

partido,
sem nó,
sem dó,

esquecido dentro de toda a minha existência.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O amor



O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma, nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sentir



Sentir,
bem mais que a vida possa permitir,
os sonhos, a pele, a face...
o beijo não dado, ferido, esquecido

Sentir,
bem mais do que a vida possa permitir,
no âmago da vida, esquece...
o sol no seu raiar, ferido

Sentir,
bem mais do que a vida possa permitir,
do ontem, que entristece...
em forma de prece, caído

Sentir,
bem mais do que a vida possa permitir,
do nome, da face que fenece...
do mundo pleno prometido

Sentir,
bem mais do que a vida possa permitir,
do peito, a poesia que adormece...
do amor indelével, expelido

Sentir,
bem mais do que a vida possa permitir,
a verdade, que brota, floresce...
o amor que não cessa, indeferido.

terça-feira, 4 de maio de 2010

XXXIII



Que meu canto seja confortante ao seu sinal de sono

Alegre tuas paisagens enquanto adormece

E torne a te confortar quando despertas


Que meu canto seja o sopro de vida para tua alma

O alcance maior para teus compromissos

Que ele tenha sempre razão em cantar.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

XXXII



Minhas lágrimas já são frias
Parecem inconter gritos de outrora
Antes gritos de alegria traziam força
Hoje em gritos de agonia, assola.

Já não consigo mais chorar
Já não consigo mais gritar
O grito de meu peito surge e permanece
a gritar dentro de mim mesmo
-Não sai, não ganha forma...

Ele vive em sua própria aflição,
consigo mesmo,
Ele vive tão forte e desassossegado
Imanente em mim perdura

Tenho um grito tão forte
Asfixia-me, remove-me
Tão forte é meu grito
Que não consigo nem mais gritar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Cantar a natureza



Eu vou cantar um canto de beleza

Louvor e sabor na mesa

Louvar, louvar eu vou!

Louvar, louvar eu vou!


Sagrada natureza

Fonte viva de certeza

Sabor e esplendor do amor

Sabor e esplendor do amor


Teu canto é todo de beleza

Tua vida traz-nos a certeza

De toda a sua beleza

De toda a sua beleza


Teus rios e amadas fontes

Teu povo semente do ontem

E de um novo amanhã

E de um novo amanhã


Ô, ô, ô, lalala la la

Lalala la la


Eu vou cantar, eu vou

Todo o seu progresso de amor

Glórias ao Deus Pai que nos criou

Imagem e semelhança natureza

De amor, de amor, ô ô ô

De amor, de amor, ô ô ô.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Adeus, meus sonhos



Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh'alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo!
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

(Álvares de Azevedo)

terça-feira, 30 de março de 2010

XXXI



Hoje eu descobri a sorte
Empenhei-me em você minha própria morte
Vi que eu podia ganhar meu santo forte
Fui meu destino e meu próprio norte
Era dia, era noite, era todo o mesmo amanhã...

Nem era brincadeira, nem tinha cheiro de hortelã
Fazia frio, pois já nem aquecia o sol forte da manhã
Fiz-me forte, sem norte
Empenhei-me em você minha própria morte.

segunda-feira, 29 de março de 2010

XXX











Esses dias tão diferentes
Consomem-me
matam-me lentamente
são-me indiferentes...

tardes extensas,
noites sem fim,
dias assim
longe do seu lado,

no silêncio e na tua ausência
são eles, meus dias, assim
sem sabor, como essas tortas linhas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O poeta é a semente



*obs: poema, de 23 de março, em homenagem ao aniversário de Zé Vicente

Meu amigo, poeta Zé Vicente
És fonte e luz que irradia
e ilumina a vida de tanta gente

Foste plantado em terra boa,
cultivada... germinou semente
de alegria e esperança
para tanta gente

Quando nasceste,
O céu sorriu-se de contente
Fez-se o dia mais preciso
e alegre, fez-te presente

Pois trouxeste
mais vida e poesia
no teu canto que alegra
e encanta tanta gente

Quando nasceste,
Deus pôs no coração da gente
Uma semente, florescente
De enCanto...
a semente Zé Vicente!

quarta-feira, 24 de março de 2010

XXIX



Pudera eu
trocar tudo...

o mundo, o silêncio, o incerto
o passado, o futuro, o presente
o meu nome, o sonho, a semente
a insônia, a poesia crua e fria

Pudera eu...
trocar tudo

o vazio, a esperança, o passado
meu jeito, meu verso trocado
o medo, o ontem, meu peito
a vida futura, meu sorriso estreito

pudera tão quanto quisera eu
trocar tudo,

para poder ter novamente teu sorriso
e poder ainda a vida
fazer algum sentido.

terça-feira, 23 de março de 2010

Amor bastante



quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto.

(Paulo Leminski)

segunda-feira, 22 de março de 2010

XXVIII



Sinto, penso...

tudo apascenta solidão

Angústia...
vento sopra
sem direção

É noite que chega
É dia que vem
Solidão se vai bem

Sem bem, sem você
sou ninguém.

domingo, 21 de março de 2010

Meu peito chora triste



E hoje meu peito

chora triste
A distância que existe
entre eu e você

distância....

que persiste em nos fazer sofrer
em nos manter distantes
a cada instante

mas,
de ti empre lembrarei
de você e com você
sempre estarei

minha vida, meu futuro incerto
só terá sentido um dia
se ter você por perto.

sábado, 20 de março de 2010

XXVII



Sou então insonso e triste
porque o destino ainda insiste
em deixar-nos longe um do outro
sou então insosso e triste
por tudo como acontece
vivendo longe do seu lado

sou agora inconsequente, torturado
vou vivendo...
de uma forma triste
a esperar...
meu feliz e curto passado.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Imagine, que em pasto seco, com qualquer faísca o fogo se alastra".

quinta-feira, 18 de março de 2010

Os três mal amados


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


(João Cabral de Melo Neto)

"Obras Completas", Editora Nova Aguilar. - Rio de Janeiro, 1994, pg.59.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Em meio a tantos escândalos, quando um político é "apenas" incompetente e desinteressado, ele passa a ser exemplar".

terça-feira, 16 de março de 2010

XXVI



Anseio pelo reencontro
Pelo sonhado reencontro
em que voltaremos a
reencontrarmo-nos...

e tudo poderá
novamente
fazer algum sentido...

e a vida poderá novamente
sorrir para mim
com seu sopro verdadeiro de vida!

segunda-feira, 15 de março de 2010

XXV



O sonho repeliu-se
a vida desfez-se,
Se tudo fosse diferente
E, falasse-me realmente,
Nada assim seria
Nem acabaria...
Numa confusa exemplificação
Sem sentido, sem direção...
Não seria o grande mistério
Que creditara-me não ser sério
O mistério, sério, levou sonhos, futuro
Mistério, engoliu tudo...
Meu peito, meu nome, minhas lembranças..
Meu peito, meu jeito nas lembranças
Meu amor indelével, genuíno...
Tudo se esvai, ficando sem destino:
-Acabei!

domingo, 14 de março de 2010

XXIV



Ainda irei buscá-la,
e quando nem notarmos
estaremos de frente com
nossos sonhos...

Você é muito especial
para que pudesse
não estar em mim...

Meu carinho, meu afeto
verdadeiro
será sempre teu!

sábado, 13 de março de 2010

Quero escrever o borrão vermelho de sangue



Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.

Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 12 de março de 2010

Das ilusões



De vez em quando,
sonho,
E vejo-me feliz novamente
parado... ao seu lado,
A sorrir alegremente...

Tudo transborda, tudo se enche
meu peito cessa, mas a vida
não mente...
Logo desperto, de súbito,
demente...

Abro os olhos,
o despertador continua a tocar...
Mais um dia
? menos um dia?
a morrer lentamentte...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Correspondência interrompida



-alguma poesia, umas palavras,
alguma música...
-uma pequena lembrança,
outras palavras,
um coração e um passo...
-um marca página, um traço
um rascunho
e vários ensaios...
-algum sono perdido, uma vida,
vários sonhos,
e outras tantas lembranças...
-um dia, umas horas,
uma dor inefável,
não mais amanheci:
-mataram-me!

quarta-feira, 10 de março de 2010

XXIII



Linda menina,
tão linda e tão minha...

se foi?

dentro de mim mesmo...
se escondeu? Não?

se foi
!

Saudades tantas...

a todo momento

se foi
,

Por você que vivo,

ou apenas mais existo

se foi
...

Minha menina:

-tão linda, tão minha

se foi.

terça-feira, 9 de março de 2010

Não sei porque



Não sei porque
quando paro, penso, me vejo sempre pensando em você
e tudo o que sinto, tudo o que eu vejo
se direciona sempre a você

Você é parte mim, assim como sempre sonhei
em ter alguém
e estar junto de você

O dia, a noite tudo se passa
Passando por você
em meus pensamentos,
Nem mesmo o tempo tem mais graça
Longe do seu lado.

Assim a vida passa
Vejo-me em encantos teus
Lembro do que é meu
Que um dia sonhei
E toda a lembrança
Aponta sempre um lado
e esse lado, é sempre ao lado teu.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Somos Mulheres, Simplesmente Mulher!


*homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Somos mulheres criadas a imagem e semelhança de Deus; somos negras, brancas, índias; somos de tanta raça e tanta cor. Gostamos de banho perfumado, de receber flores e ouvir palavras de amor e receber carinho; de cantar, dançar e tocar. Deixamos com muita facilidade as lágrimas banhar nossos rostos. Somos geradoras de vidas, amor e esperança; tornamos o ambiente mais alegre e bonito. Somos sempre lindas.

Somos mulheres frágil e forte, uma mistura que dá certo. Somos capazes de superar os preconceitos da sociedade e os preconceitos eclesiais que aos poucos já não encontram mais suporte. Sabemos de nossa missão, que somos enviadas e estamos por todos os lugares semeando fraternidade, justiça, paz e amor. Somos presença amiga de Deus no meio de seu povo.

Somos esposas, mulheres da aliança. Somos mãe, fonte de vida e de amor, revelamos a face materna de Deus, Ele que é fonte de vida e de amor sem limites, tal como as entranhas da mãe. Somos porta voz de Deus, proclamamos sua mensagem de vida e ressurreição. Somos filhas e amigas, presença incansável, cremos na vida, num novo amanhecer; queremos um mundo construindo paz.

Somos profetas e não nos calamos, mesmo quando estamos silenciosas. Somos solidárias com cada irmã e cada irmão que luta. Nesse chão tantas mulheres plantadas pela vida, justiça, amor e paz; sofrem caladas, perdem a vida e enfrentam a dor. Somos a força feminina presente construindo uma nova história. Maldita toda a violência que devora a vida pela exclusão e pela repressão.

Somos dona de casa, estudante, evangelizadora, lavradora, contadora, operária, catadora de reciclável, vendedora, médica; somos de tudo um pouco. Somos lutadoras, fazemos história mesmo quando não reconhecem nosso valor. Somos incansáveis. Temos o dia oito de março como nosso dia, mas com muita ousadia fazemos de cada dia o nosso dia. Somos Mulheres. Simplesmente Mulher.


(Lucimar Moreira)