domingo, 11 de junho de 2017

Ésse

se definir
e se limitar
é definhar-se

sábado, 10 de junho de 2017

Inação vã(i)

A cada mala que se desfaz
um hematoma a mais
se forma pela fôrma do tempo
se encontra avesso no âmago

A cada passo mais
se vê no espelho retrovisor
os gritos insanos em si
rasgados e cheios de rubor

A saudade aperta
a omissão ingrata
o silêncio se espaça

da injusta cor do baço
da inócua bravata falsa
do sublime feito enlace.

sábado, 22 de abril de 2017

Assobia

Assobia
em sua boca
sem saber de si
sem pudor
sem rubor

Assimila
em turvor
sentimentos
incultos
sentidos.

Assumia 
em timbre
sem 
saber
de si.

Alivia
em tom
monossilábico
o que não sabe
sentir.


domingo, 19 de março de 2017

Soneto 19


O que já versa opaco do tempo
é denso e instante silêncio
perdido entre tanto lamento
as próprias lacunas do tempo.

Sisudo e cálido se vai
as outras ondas que o tempo faz
os dias e as noites que em si fazem
memórias do que se vai.

Se vai para nunca mais,
se volta para sempre mais,
se vai, se volta, sê mais.

Sem volta, em volta se faz,
a todo tempo cruel destino
para sempre ou nunca mais.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Sobre o Dia 8 de Março

Confesso que durante o dia de hoje e até aos que antecederam-no fiquei inquieto e me perguntando a melhor forma de falar e refletir sobre este dia 8 de março. Por muito e sempre o silêncio é a melhor resposta e reflexão.

Também por muito e sempre, como educadores, é-nos pedagógico e salutar trazer presente e não emudecer em nossas ações, em especial, construindo e fazendo junto a partir da realidade, como já sinalizara uma pedagogia popular efetiva e afetiva. Assim a tento.

Lembrar e falar deste 8 de março é lembrar e falar das vozes ainda emudecidas e desaparecidas durante os tempos da ditadura, das mortes nas fábricas, da violência física e verbal, doméstica e genérica, impessoal e camuflada. É um pôr o olhar na história, mas também muito mais com os pés na realidade e no presente. O 8 de março pode simbolizar flores tomadas ou tombadas pelo caminho. Tomadas e lançadas na memória e na história dos que creem na vida. Este dia recobre em história, em memória, mas também recobre entre tantos outros gritos, por entre silêncios que gritam muito mais que palavras, estatísticas ou imagens. Recai e se recobrem por entre cenas e cores, que ecoam e pedem mais vida.

Mulheres que trazem vida plena, rebeldia, sinais e almas largas que não se fazem pequenas. Neste e em tantos dias muitas cantam, é o mesmo canto que ecoou outrora, ainda carregado de cor e ao mesmo tempo de esperança. Das bocas que não tremem e que seguem construindo horizontes, abrindo montes, fazendo sinal. É março, é dia 8, mas é também por todo e sempre.

Das memórias vivas, dentre tantas, fita-me o rosto de Olga, quando em vias da sua condenação e perseguição. Memória fixada e tocante, inquietante, quando lhe roubavam a toda e qualquer dignidade, porém com seus sonhos e com sua vida a seguir de cabeça erguida até o final. A memória se faz prece, oração, chora e reconhece, vive e se volta em silêncio. E em respeito e em sinal de luto - e luta - assim volta e permanece.

#8M #8deMarço

terça-feira, 7 de março de 2017

Tom(b)ada de flores


Em caminho tom(b)ado de flores,
Há mais sonhos do que amores,
Há mais esperança em forma de prosa,
Há descrição litigiosa avessa a canção.
Há sempre mais e há que se ter razão.

Firma a luta em terreno ligeiro
Segura os passos, fita o horizonte
Segura o rubor, fita-o em amor
dos dias e do pleno límpido porvir
faz do sonho pleno cada instante.

Faz, não fá-lo-á só,
Em paz, constrói o mundo inteiro
Sonhos vívidos em manhãs
Passos tingidos do amanhã
Cores vivas em tom verdadeiro.

Sobre a tua sombra te dirão
E em teu repouso impávido clarão
Corrobora os gritos de outrora
Fitando-os em pronta hora
que o amor e a vida não cessam.

Os gritos não envelhecem
Os sonhos e a vida não fenecem
Apoiar-te-ei em meu colo
por sempre fortalecendo
sonhos de novo mundo. 

domingo, 5 de março de 2017

Enfeite


Regozija-te em versos
suave forma de amor
em que tudo expunha
o invólucro feitio da dor

é-se, fez-se, pôs-se
ser o que mais se foi
ter o que nunca teve
fazer o que sempre soube

foi pouco ou foi
por pouco que trouxe
tabus de tampouco
novidades feito louco
ao avesso de si mesmo

é-te, cabe-te, logo
translucida-te em traços
feito tons, presos, esmos
do que pôr, fora fez-te
findar trépido enfeite.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Foi de repente


Foi de repente
outra vez mais
vi-me face a face
comigo mesmo, contente

parecia o mesmo tom
o mesmo rubor frequente
ahh! mente que possa ser verdade?
outra vez? outra metade?!

E é nessa metade que fico
metade de mim foge
outra simplifica
quanta alegria ainda incontida
dolorida, abobida, nossa!
serei ainda o mesmo de
outrora?

Sim, o tempo voa, a noite passa,
o dia vem, e vai, e as horas?
para acreditar, imaginar de novo...
sim, ai ai, quero inconter-me,
quero perder-me sendo para achar
novo tom, verdadeira sonância

na canção da vida...

embalo-me em pensamentos,
fica o brilho, a todo momento
do teu sorriso que cintila,
todo único em pensamento
dia e noite, noite e dia

já não sei, já não há,
amanhã é domingo e espero
assim acordar
na alegre e mais pura e infinda canção que há
meio bobo e contente, assim, de repente.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Logo que te vi


Logo que te vi
foi por um instante
o brilho em meu rosto
forte se fez cintilante

Logo que te vi a calma se fez
e sabia que sempre era vez
tempo novo a se descobrir
o árido átrio a de novo florir.

Sementes de saudades
sinais de solução
soluços de vontades
sibilavam sensações

Logo que te vi
fez-se a vida mais vibrante
fez-se o tom mais forte
faz-se o tempo eterno instante

Logo que te vi foi por um triz
Estava, pois, tomado por inteiro
da tua paz e do teu charme
amor de sempre verdadeiro.

Logo que te vi
foi então para sempre mais
tomado de charme e canção
fez-se terna e eterna paz.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O que sobra da calma?
















O que sobra da calma?

Quando o céu não vem,
quando os pés não pisam,
quando as mãos não sentem
um mínimo sorriso,
o que sobra da calma?

Quando a vida se enrosca,
quando os olhos se encostam,
quando o que sobra é a margem
de toda uma vida,
o que sobra da calma?

Quando a paz já se encerra,
quando não se vê primavera,
quando tudo era quimera
flamejando pelo além,
o que sobra da calma?

Quando o verso já é pouco,
quando dispersa em sufoco,
quando mais te parece louco
a procura de alguém,
o que sobra da calma?