Peco por atos e omissões, culpas e desejos. Peco na tentativa de acertar e erro permanentemente pensando estar fazendo certo. Sim, peco e não vejo mal, não encontro mal em ser ou estar sendo sem saber, ou em ser e reinventar aquilo que já existe em outras palavras. Sendo assim, peco melhor, peco dando nova vida e tudo aquilo que dá nova vida encontra novo sentido em existir e essa é uma bonita missão: fazer com que tudo exista, que ganhe sentido.
Da iminente reflexão brota a dúvida: pecar por ou sem querer com ou sem saber, eis de toda iniciativa inocente sucede o perdão, sincero e verdadeiramente disposto a trazer nova forma de acertar, sem compromissos, desde o compromisso natural - e maior - seja de não pecar novamente, mas sim de encontrar o caminho que leve as maneiras e condutas de não mais errar.
Eis que das palavras brota a poesia das palavras de tantas, infinitas, poucas coisas ainda não foram ditas, o que sobra é a forma em que cada um de nós pode e cabe dizê-las. E eu digo. E digo mais de um jeito do que desejo e desejo mais do que posso dizer - a indizível arte - de transpor e ousar sem não mais pecar: eis o grande desafio que brota na poesia do vazio que se espera por encantar.
Eu peco permanentemente na forma robusta de dizer e na lírica externa sem saber e no texto compacto e na palavra e na dosagem do verso. Peco por querer, havendo culpa intencional em tamanho pecado, mas quem poderá julgar ao pecado que lava a alma e que engrandece? Peco sem olhar pra trás e até olhando pra ver, mas não e encontro... mas aí também é pecado?
Reflexões tolas ou não pecar por consciência, coincidência sei lá, pouco importa quando a grandeza da palavra ganha forma, se traduz das linhas uniformes para o âmago ser da essência de si, de cada um.... pouco importa nessa hora se o pecado é grave ou leve, se é mortal, capital ou real, pouco importa se traduz, reluz ou apaga; da consciência entre pecar e não pecar acabo rendido às palavras.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Da leveza
Soprei algumas palavras ao vento
Na intenção de que me escutesSoletrei teu nome baixinho
Para que o vento te leves
Tão leve quanto o afago teu distante
Na distância frequente
Já pedi ao próprio vento
Que me leve nas suas ondas leves
Tão suave e brandamente a te afagar
Já sonhei em ser o próprio vento.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Da cor
Há uma cor que não vem nos dicionários. É essa indefinível cor que têm todos os retratos, os figurinos da última estação, a voz das velhas damas, os primeiros sapatos, certas tabuletas, certas ruazinhas laterais: a cor do tempo…
(Mario Quintana in Sapato Florido, 1984, p. 90)
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Da essência
Dir-te-ia que sou capaz de mudar
Sem nunca duvidar na constância
Da essência que permanece
Sempre viva!
Sem nunca duvidar na constância
Da essência que permanece
Sempre viva!
sábado, 11 de junho de 2011
XLV
Velhos passos, tensos,
Rubros e negros
Fazem da utopia - esperança
Novo sonho plantado no chão.
Na flor viva da palmeira terna
Verdeja o brilho no sol que influi
Muda-se um segundo
Tende-se para sempre.
Do nó fado, seda, dia
Mais se vai do que se fica
Das mãos juntas e robustas
Afável inspiração incrédula
Nos passos esgueirados
O olhar que cintila
O coração apruma
A vida leve de cada dia
Na voz que ecoa
Novos sons na mesma sonância
Os sonhos não morrem
Eles só mudam de nome.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Ensaio sincrônico
Abismo o espanto,
Avisto o susto,
Rabisco as canções,
...per...di...das... em
so
lu
ços.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Desajeitado
Não!
Não levo jeito
É você quem leva ele todo
Fico sem ele - o jeito -, despido, nu
Nas entrelinhas da canção inacabada
No jeito de ser, - sem jeito -
Fito-me na observância de ver-me
Outra vez,
sem jeito,
só.
domingo, 5 de junho de 2011
Incenso fosse música
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
(Paulo Leminski in Distraídos Venceremos, 2002, p. 93)
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sexta-feira, 3 de junho de 2011
Suicídio
Do desejo à ânsia, de vez em quando
é sempre tanto
Inominável vontade sem fim de
jogar-me
[-ao
o s s e v a.
Sempre a sombra sobra
recaída do mesmo lado
que um dia fora
cons-tru-í-da
tru
í
da
uma a uma.
o amanhã e hoje
é sempre o mesmo ontem
selo, esmo, que se encontra
dentro do peito.
Sentimento indistinguível
indizível vontade de pensar, e dizer
que sempre tanto faz
se você não vem, se você não vê
parece sempre saudade,
quando na verdade
era só vontade de ser
sempre mais.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Sobre pausas e dúvidas
Eu penso que todas, as interrogações???
Deveriam ganhar múltilplas reticências...
e nunca estarem abertas, pausadamente,
a um imóvel e irreversível, ponto final.
Deveriam ganhar múltilplas reticências...
e nunca estarem abertas, pausadamente,
a um imóvel e irreversível, ponto final.
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